Posts

Uma mulher escolhendo roupas para seu bebê

Miomas e Gravidez

Sem dúvida alguma esta é uma das questões mais importantes que lidamos no consultório quando estamos diante de uma paciee com miomas uterinos e que deseja engravidar. Sabemos que inúmeras mulheres engravidam sem maiores dificuldades, apresentam uma gestação absolutamente normal e têm seus filhos sem complicações apesar dos miomas. Além disso, podemos dizer também, que a maioria destas mulheres nunca soube e nunca saberão que tem miomas uterinos.

Mas, quando os miomas interferem, existem maneiras diferentes de este evento acontecer. As principais questões a serem levantadas quando o assunto é miomas e gravidez são:

1. Os miomas dificultam a engravidar?

Sabemos que não são todos os tipos de miomas que podem levar a uma dificuldade para engravidar. Na verdade, a maioria dos miomas não tem essa característica. Para que essa dificuldade ocorra, os miomas basicamente dificultam o encontro do espermatozoide com o óvulo. Isto pode ocorrer de várias maneiras. Pode ser com um mioma submucoso ou com um ou vários intramurais que distorcem a cavidade uterina ou comprimem as trompas.

2. Os miomas aumentam o risco de abortamento?

A maioria das mulheres que tiveram um abortamento espontâneo nos primeiros três meses de gestação nunca soube que estavam grávidas. Diversas causas podem estar relacionadas a estes abortamentos precoces, sendo a mais comum, alterações genéticas fetais incompatíveis com a vida. No entanto, se os miomas estão presentes, tendemos atribuir as perdas a eles. Mas, para isto, é necessário estabelecer se eles ocupam ou distorcem a cavidade uterina. Estes miomas podem sim levar a um aumento do risco de abortamento espontâneo no primeiro trimestre da gravidez. Perdas gestacionais no segundo e terceiro trimestres da gravidez, por sua vez, estão raramente associados a problemas fetais. Geralmente, podemos atribuir estas perdas a problemas uterinos, dentre eles os miomas.

3. Os miomas podem levar a complicações durante a gravidez e no parto?

Se os miomas não causam infertilidade ou abortamentos, eles podem levar a um aumento das complicações durante a gravidez. Os miomas possuem receptores para os hormônios produzidos durante a gestação. Por este motivo, quase sempre podemos observar o crescimento dos miomas durante a gravidez. Esse crescimento é variável e dependente de diversos fatores, como vascularização e localização dos miomas.

Os miomas durante a gravidez podem sofrer o que chamamos de auto embolização. Esta auto embolização ocorre quando o mioma cresce mais do que sua capacidade de receber sangue para sua própria nutrição. Com isso, o mioma começa entrar em infarto, ou seja, o mioma literalmente morre. Por este motivo, a dor é mais frequente do que em pacientes grávidas sem miomas, ocorrendo em até 15% das gestantes com miomas. Os miomas também podem aumentar a incidência de partos prematuros, ocorrendo em até 20% das pacientes. Estes dois eventos ocorrem mais quando os miomas crescem significativamente de tamanho e quando os miomas se localizam próximos à placenta.

Esta localização dos miomas próximos à placenta também aumenta consideravelmente a incidência de descolamento prematuro de placenta. A incidência de descolamento prematuro de placenta pode chegar até 60% em miomas com esta localização, contra 2,5% para miomas em localizações diferentes. Em gestantes com miomas, o risco de sangramento no primeiro trimestre é duas vezes maior. O risco de apresentação pélvica é quatro vezes maior. O risco de contrações uterinas ineficazes no momento do parto é duas vezes maior e o risco de cesariana é seis vezes maior. Não existem evidências que o crescimento fetal intra-uterino seja afetado.

4. Se os miomas forem tratados, quais as consequências deste tratamento para a fertilidade e para uma futura gravidez?

Apesar do risco de infertilidade, de abortamentos e de complicações durante a gravidez, não existem evidências de que os miomas devam sempre ser tratados em mulheres que desejam engravidar. As complicações dos tratamentos e seus efeitos colaterais também devem ser levados em consideração na relação risco-benefício quando estamos diante de um caso destes.

As evidências científicas demonstram ser a miomectomia (retirada cirúrgica do mioma) o padrão ouro para mulheres que possuem miomas, desejam engravidar e necessitam de tratamento. No entanto, as miomectomias por laparotomia e laparoscopia estão relacionadas a uma incidência elevada de formação de aderências pélvicas. Estas aderências podem levar não só a dor, mas também a distorções anatômicas da pelve, bloqueando as trompas, levando à infertilidade. Além disso, essas miomectomias, quando não são realizadas com suturas uterinas adequadas, aumentam o risco de ruptura, devido à fragilidade que causam a parede uterina. A ruptura uterina está associada a um alto índice de morte fetal. Já a miomectomia videohisteroscópica não está relacionada a um aumento da incidência de ruptura uterina. Diversos estudos não demonstraram impacto na infertilidade deste tipo de miomectomia. Embora sinéquias uterinas (aderências intrauterinas) possam ocorrem após uma miomectomia por videohisteroscopia, elas podem ser facilmente desfeitas, restabelecendo a anatomia da cavidade uterina.

Na década de 90, a embolização surgiu como um método alternativo e promissor no tratamento dos miomas uterinos. De fato, a embolização dos miomas uterinos é um dos tratamentos com menor índice de complicações e com índice de sucesso bastante satisfatório. No entanto, não devemos ignorar o possível impacto que ela pode ter na fertilidade da mulher com miomas. Apesar da evolução da técnica e da sofisticação dos materiais utilizados ter diminuído significativamente os riscos, a embolização também pode trazer consequências negativas na fertilidade da mulher. A disfunção ovariana, temporária ou não, levando a amenorreia (parada da menstruação) pode ocorrer em 5% a 8% dos casos. Isto pode ocorrer por dois motivos. Primeiro pela radiação que os ovários recebem durante o procedimento (por se tratar do uso de imagens geradas por um equipamento de radiologia digital, com emissão de raios-X), segundo pela possibilidade de embolização dos vasos responsáveis pela vascularização dos ovários. Além disso, existe a possibilidade, mesmo que remota, de embolização total ou parcial do endométrio, com comprometimento da vascularização deste, dificultando o preparo deste endométrio para a implantação do ovo fecundado ou até mesmo aumentando as chances de desenvolver uma placenta acreta, ou seja, quando a placenta está intimamente aderida à parede do útero, dificultando seu desprendimento após a saída do recém-nato. Felizmente, o aprimoramento da técnica, o uso de materiais cada vez mais modernos e a existência de equipes cada vez mais experientes estão diminuindo consideravelmente a incidência destas complicações.

Por fim, a ablação dos miomas por ultrassom focalizado guiado por ressonância magnética (MRgFUS) tem se mostrado um método bastante eficaz no tratamento dos miomas sintomáticos, principalmente os que estão relacionados à infertilidade. A grande vantagem deste tratamento está em possuir um índice baixíssimo de complicações. Apesar de já existirem relatos de gestações após o tratamento com MRgFUS, muitos estudos ainda são necessários para classificar este tratamento totalmente seguro para mulheres que desejam engravidar. Mas, evidências têm sugerido que, muito em breve, a ablação dos miomas por ultrassom focalizado poderá ser eleita como mais uma alternativa para o tratamento dos miomas em mulheres que desejam engravidar.

Em pacientes sintomáticas, decidir pelo tratamento dos miomas não é difícil. Mas, muitas vezes, decidir qual tratamento é o mais adequado pode ser algo muito delicado. O desejo de gravidez deve sempre ser respeitado. Já em pacientes assintomáticas, a decisão por realizar o tratamento dos miomas pode ser bastante complexa. Por este motivo, devemos sempre pensar na relação risco-benefício de realizar ou não o tratamento e da relação risco-benefício do tratamento proposto, não se esquecendo de sempre estarmos respaldados pelas evidências científicas e na experiência da equipe que executará o tratamento.

Qual o melhor tratamento para os miomas SEM a retirada do útero?

“Esta pergunta não é incomum. Certamente muitas mulheres já se perguntaram. E, certamente, muitas já perguntaram para seu médico. Na verdade, a resposta certa, apesar de óbvia, poucas vezes é respondida com clareza. Não há tratamento para os miomas uterinos SEM a retirada do útero que seja melhor do que os outros.” Dr. Michel Zelaquett

Aí vem outras perguntas:

E os tão divulgados tratamentos minimamente invasivos, como a embolização dos miomas?
Os novos tratamentos, como o ExAblate, são confiáveis?

E os tratamentos tradicionais, como a miomectomia, ainda são bons?

Todos os tratamentos são bons, seguros, confiáveis e, na grande maioria das vezes, cumprem o principal objetivo: a preservação uterina.
No entanto, a escolha do melhor tratamento depende de 3 fatores principais, são eles:

  1. Os sintomas da paciente.
  2. Os tipos de miomas que a paciente apresenta.
  3. O perfil da paciente.

Para entendermos melhor esta segmentação vejamos abaixo:

O tratamento a ser escolhido deve estar direcionado a melhora dos sintomas que a mulher com mioma apresenta. Ou seja, se é sangramento uterino anormal, o tratamento tem que melhorá-lo. Se é aumento do volume abdominal, o tratamento deve reduzi-lo. Se for aumento da frequência urinária por compressão da bexiga, este sintoma deve ser tratado. E, também, se o sintoma for infertilidade, o tratamento deve estar direcionado a melhora da fertilidade da mulher. Portanto, a escolha do tratamento deve estar condicionada a melhora dos sintomas apresentados, objetivando a melhora da qualidade de vida desta mulher.

Os tipos de miomas apresentados também vão influenciar diretamente na escolha do melhor tratamento. Os tipos de miomas, como apresentado em postagem anterior, podem variar de acordo com a localização, o tamanho, o número de miomas e, principalmente, o componente (conteúdo) do mioma. Um exemplo quanto a localização são os miomas pediculados, que não devem ser tratados pela embolização ou pelo ExAblate, sob o risco de se desprenderem do útero. Outro exemplo de localização são os miomas submucosos (na camada mais interna do útero), quase sempre o melhor tratamento é a miomectomia por videohisteroscopia. Mas se este mioma submucoso for muito grande, em geral acima de 4 centímetros de diâmetro, a miomectomia por videohisteroscopia pode não ser o melhor tratamento. Então, pode ser necessário um tratamento para reduzi-lo antes de retirá-lo. Miomas extremamente grandes (em geral acima de 14 centímetros) podem não ter como uma boa opção os tratamentos para redução do volume, como a embolização ou o ExAblate, visto que estes miomas podem permanecer ainda grandes. Múltiplos miomas (em número acima de 4) podem não ter como boa opção de tratamento o ExAblate ou a miomectomia por videolaparoscopia. Quanto ao conteúdo, miomas não vascularizados ou degenerados não servem para o tratamento através da embolização ou do ExAblate. Miomas muito hidratados também não são bons para o ExAblate. Por estes motivos, a propedêutica de investigação para o tratamento conservador dos miomas uterinos deve passar obrigatoriamente pela ressonância magnética de pelve com contraste. Só a ressonância, diferentemente da ultrassonografia, pode fornecer com certa confiabilidade os dados quanto ao número de miomas, localização e tamanho dos principais miomas e o conteúdo destes miomas, referente a vascularização, celularidade e hidratação do mioma.

Agora a mais importante variável nesta equação que é a escolha do melhor tratamento para os miomas uterinos SEM a retirada do útero. O PERFIL da paciente. Este perfil deve ser definido de maneira única, individual e personalizada. Ou seja, o perfil de uma paciente com miomas é único. Somos pessoas únicas inseridas em um contexto. Cabe a nós médicos investigarmos o contexto em que vocês pacientes estão inseridas. Este contexto é formado por vários fatores como idade, estado civil, renda familiar, prole, desejo de engravidar, trabalho, tipo de trabalho, atividade física etc. Saber deste contexto significa dimensionar o tratamento de acordo com seus desejos e aspirações e de acordo com a importância que você exerce na sua vida familiar, no seu ambiente de trabalho enfim, na sociedade. Então, definitivamente, não devemos tratar uma parte de uma pessoa e sim um indivíduo como um todo inserido na coletividade (sociedade).

Finalmente…para nossa pergunta:

Qual o melhor tratamento para os miomas SEM a retirada do útero?

A resposta:
Depende, do seu médico analisar de maneira criteriosa seus sintomas, os tipos de seus miomas e o seu perfil. Além disso, depende também dele ter disponível todas as opções de tratamento dos miomas uterinos SEM a retirada do útero, para, dentre todas opções, poder escolher o melhor tratamento para o SEU caso.