A evolução dos tratamentos contra os miomas uterinos

Os leiomiomas, mais conhecidos como miomas uterinos, são tumores benignos que surgem no miométrio e contêm quantidade variável de tecido conjuntivo fibroso. Os miomas são muito frequentes em mulheres em idade fértil e nem sempre apresentam sintomas. Isto é, a grande maioria dessas mulheres é assintomática. Dentre os sintomas mais comuns, podemos destacar: cólicas, sangramento intenso, dores na região pélvica, incômodo durante o ato sexual, aumento abdominal, prisão de ventre e incontinência urinária. Esses sintomas são relacionados diretamente ao tamanho, ao número e à localização dos miomas. Dessa forma, os três principais tipos de miomas são: 

  • Subseroso: está localizado na parte externa da parede do útero;
  • Intramural: localiza-se na parede uterina;
  • Submucoso: localiza-se na parte interna do órgão.

Estudos indicam alguns fatores de risco para o surgimento dos miomas, embora ainda não se possa definir a causa exata da doença. Entretanto, foram observados que fatores genéticos (hereditariedade) e hormonais, idade (maior risco antes dos 50 anos), menarca (início da menstruação) precoce, nuliparidade (mulher que nunca teve filhos), obesidade, raça negra, a hipertensão arterial e consumo de álcool e cafeína exercem grande influência no aparecimento dos leiomiomas.

Mulheres com miomatose assintomática não necessitam de tratamento, sendo necessário apenas acompanhamento ginecológico de rotina. Contudo, o tratamento das pacientes com miomas sintomáticos deve ser individualizado, pois cada caso é único. É preciso levar em consideração sua idade, o desejo de gestação, os sintomas provocados e o tamanho e a localização dos miomas. 

Ao longo dos anos, a tecnologia trouxe para a área da medicina procedimentos modernos que possibilitam tratar mulheres com miomas sem a necessidade da realização da cirurgia de histerectomia, ou seja, sem a retirada do útero.  

Dentre esses tratamentos, destacamos os principais:

  • Embolização de Miomas Uterinos

É um tratamento menos invasivo e menos doloroso, feito por meio da injeção de algumas substâncias que não causam nenhum dano à saúde da mulher, com o objetivo de obstruir as artérias que levam sangue aos miomas. 

A embolização não necessita de anestesia geral e, tampouco, de incisões. Assim, além do risco ser menor, o tempo de internação e de recuperação é mais curto. 

  • Miomectomia Uterina

A miomectomia consiste na retirada cirúrgica dos miomas uterinos com preservação do útero. 

Atualmente existem quatro tipos de miomectomia: miomectomia por laparotomia, miomectomia histeroscópica, miomectomia laparoscópica e a miomectomia robótica.

Por décadas, a miomectomia por laparotomia, ou seja, através da abertura cirúrgica da parede abdominal, foi o procedimento mais utilizado, tendo sido substituído pela miomectomia robótica, que se mostrou extremamente eficaz em aprimorar ainda mais a técnica laparoscópica, ampliando suas indicações e reduzindo os riscos.

A miomectomia laparoscópica assistida por robô (Da Vinci, Intuitive Surgical), também pode ser chamada de miomectomia robótica, é uma cirurgia minimamente invasiva capaz de realizar a retirada dos miomas com a preservação do útero.

Nesta técnica, a paciente, após ser anestesiada, é posicionada na mesa operatória, onde o médico-cirurgião realiza de 4 a 5 pequenas incisões (menores de 1 centímetro) no abdome e introduz as cânulas ou trocarteres por onde entrarão as pinças. Em seguida o cirurgião acopla os braços do robô as cânulas e dirige-se ao console localizado dentro do centro cirúrgico de onde ele coordena todos os movimentos dos braços do robô, da câmera e das pinças, executando o procedimento em si.

Esse procedimento é menos doloroso com menor tempo de internação hospitalar, mais rápida recuperação e retorno precoce às atividades cotidianas e laborais, além de preservar o útero.

  • Ablação dos Miomas por Radiofrequência

É um procedimento minimamente invasivo, realizado por via vaginal, sem cortes ou cicatrizes e que dura cerca de 30 minutos. A dor esperada durante e logo após o procedimento é bem menor do que em outros procedimentos cirúrgicos e até mesmo menor do que na embolização dos miomas. Por este motivo a anestesia aplicada é apenas uma sedação. 

É realizado em ambiente hospitalar em regime de day clinic, ou seja, a paciente tem alta hospitalar no mesmo dia, podendo retornar às suas atividades cotidianas em até 48 horas.

A técnica da ablação dos miomas por radiofrequência consiste em posicionar a paciente na posição ginecológica, sob sedação, e realizar inicialmente uma ultrassonografia transvaginal para mapeamento e identificação dos miomas a serem tratados. Em seguida, guiado pela própria ultrassonografia transvaginal, uma agulha bem fina (eletrodo ativo que emite as ondas de radiofrequência) é introduzida através do colo uterino até o centro do mioma. Com a identificação do correto posicionamento da ponta da agulha no centro do mioma a ser tratado, é então ativado o gerador que emitirá as ondas de radiofrequência ablativas, que irão aquecer o mioma até uma temperatura de 85ºC, ocasionando a destruição das células do mioma. Por consequência da morte do mioma, a redução de volume do mioma esperada é em média de 60% após seis  meses o procedimento.

Os impactos dos miomas uterinos na saúde mental da mulher

Cólicas, sangramentos fora do período menstrual, sensação de peso na região pélvica, desconforto durante a relação sexual, prisão de ventre e dores, muitas dores. Estes são alguns dos sintomas que assombram os dias de inúmeras mulheres com miomas uterinos. Conviver com tais incômodos e, ainda assim, ter disposição para cumprir com suas responsabilidades cotidianas é uma luta que nem toda mulher consegue vencer, pois muitas delas mal conseguem levantar da cama quando esses sintomas pioram. E aí, sua produtividade diminui, a culpa por não conseguir realizar suas atividades chega, sua qualidade de vida é impactada severamente e com isso surgem outras questões, as dores emocionais.

Os impactos negativos dos miomas na vida da mulher podem surgir inclusive antes do próprio diagnóstico. Isso porque muitas mulheres apresentam os sintomas e não buscam ajuda médica. Há aquelas também que estão aguardando atendimento e não fazem ideia do que esteja acontecendo com seu corpo. Essa espera gera dúvidas e medo na paciente que, até há bem pouco tempo, levava uma vida ‘normal.’

Entre as áreas da vida da mulher que são impactadas pelos miomas uterinos estão a familiar e a profissional. Muitas vezes, o companheiro não alcança a gravidade da situação e a mulher se sente sozinha e culpada. Em relação ao trabalho, inúmeras pacientes acabam se ausentando com frequência, o que traz o medo de perder o emprego ou de ser prejudicada profissionalmente.

Contudo, a infertilidade talvez seja uma das consequências que mais atormenta as mulheres com miomas. O medo de perder o útero é comum entre as pacientes que ainda não engravidaram ou que pretendem ter mais filhos. Infelizmente, a histerectomia é uma das cirurgias mais praticadas no mundo, inclusive no Brasil, e tal receio é perfeitamente justificável caso a paciente não tenha acesso a especialistas que possam esclarecer suas dúvidas com exatidão e oferecer alternativas terapêuticas à retirada do útero.

Segundo os resultados de um estudo realizado pela Clínica Mayo, nos Estados Unidos, publicado no periódico médico Menopause, a histerectomia aumenta o risco de depressão em 26% e, de ansiedade em 22%. Tal risco é ainda maior em mulheres mais jovens, abaixo dos 35 anos, sendo a chance de depressão em torno de 47%, e de ansiedade, 45%. 

A queda de hormônios gerada pela histerectomia aliada a importância do útero para a mulher, sendo este último um símbolo de feminilidade de extrema importância, podem estar relacionados a esses resultados, embora o estudo citado não afirme que as questões emocionais foram exatamente causadas pela falta de estrogênio ou pelo impacto da retirada do órgão reprodutor.

O fato é o medo, a angústia, as dores e todos os impactos na vida da mulher com miomas podem gerar problemas emocionais que precisam ser tratados, assim como o tumor em si.

Sendo assim, o Centro de Mioma trabalha com uma equipe multidisciplinar, para que a paciente tenha todas as suas dúvidas sanadas, desde o diagnóstico ao tratamento indicado, além de receber atendimento psicológico e assim tratar, igualmente, suas dores físicas e emocionais. Dessa forma, os miomas uterinos deixarão de impactar o dia a dia dessa mulher e sua qualidade de vida tende a melhorar consideravelmente.